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casa das artes
3 anos 2 meses 1 semana 6 dias

Pessoas que são muito boas na ótica de utilizador

Assim, de chofre, soa a algo informático, de como usar o word ou o excel. Algo que colocamos no nosso CV. Hoje apetece-me falar deste tipo de pessoas que são muito boas nesta “soft skill”. Pessoas que são muito boas na ótica DE utilizador

Imaginemos o Sr. Asdrúbal, que se vai candidatar a uma vaga numa empresa (não importa qual a área) e ele é ótimo na ótica de utilizador.

Imaginemos a entrevista de emprego e segue-se o diálogo:

Entrevistador: “Bom dia. Ora então o Dr. Asdrúbal candidatou-se para a nossa vaga de utilizador. Sim senhor, estive a ver o seu currículo, e o senhor é realmente bom a utilizar!”

Sr. Asdrúbal: “Olhe, por acaso, não é para me gabar, mas modéstia à parte, sou um dos melhores nesta área!”

Entrevistador: “Ai sim? Mencione-me então as suas melhores utilizações.”

Sr. Asdrúbal: “Olhe, trabalhei uma vez numa empresa de comunicação em que era preciso um contacto de um jornalista famoso para dar uma entrevista. E não é que fui eu que o consegui?”

Entrevistador: “Mas isso não prova a utilização! Isso só prova que o senhor, através dos seus contactos, conseguiu que o tal jornalista famoso fosse dar a entrevista. Isso foi mérito seu! Já está a mentir no seu curriculum!”

Sr. Asdrúbal: “Acho que não me exprimi bem. Não era EU que tinha o contacto. Era um colega meu. Esse colega tem montes de contactos e eu, sem ele se aperceber, pedi-lhe o contacto e ele deu-me! É claro que, quando fui à administração dar o contacto do jornalista não disse que tinha sido o meu colega a dar-mo! Disse que era meu!”

Entrevistador: “Muito bem! Excelente mesmo! Nesta empresa premiamos pessoas como o senhor! Pessoas que sabem muito bem como utilizar os colegas! E tem mais alguma história de utilização que queira partilhar comigo?”

Sr. Asdrúbal: “Também nessa mesma empresa, havia um colega que escrevia muito bem. E só me faltava essa utilização para ascender à chefia de topo, pois não sei escrever muito bem. Então, pedi a esse colega, alegando que estava com muito trabalho, se me podia escrever o relatório para levar à administração.

O colega prontamente escreveu o relatório. Mas, quando fui tentar assinar o meu nome no mesmo, o colega ficou bastante aborrecido e recusou-se a deixar-me assinar como tendo sido eu o seu autor. Alegando que eu estava a tentar utilizar o texto dele como sendo meu.

Entrevistador: “Então o Sr. Asdrúbal foi despedido?”

Sr. Asdrúbal: Não, não. Saí porque quis. Senti que já não era lugar para as minhas capacidades de utilizador. Daí ter saído para procurar uma vaga de utilizador nesta empresa que agora me candidato. Pois só me falta mesmo isso para ser um utilizador de excelência. Saí daquela empresa pois não preenchia as ambições que tinha para mim. Sinto que ainda posso utilizar muito mais pessoas e esta empresa é o sítio certo para mim.”

As pessoas muito boas na ótica de utilizador são pessoas que têm “bom olho” para as “skills” (habilidades, traduzido à letra) dos outros. Serão os chamados “olheiros” nos termos futebolísticos.

Estas pessoas são apenas boas nisso. Na perspetiva do utilizador. Ou seja, apenas são boas a ver o que de bom tem outra pessoa, e a usar isso a seu favor.

Será um headhunting (caçador de talentos) na perspetiva empresarial? Poderia ser, se o talento da outra pessoa-alvo fosse não apenas beneficiar uma empresa, mas também beneficiar a ela própria.

As pessoas muito boas na ótica de utilizador são excelentes a usar pessoas para seu próprio benefício. Este tipo de pessoas, na realidade, não sabe fazer nada da vida, não têm qualquer espécie de talento, não se destacam por alguma característica diferenciadora.

São bastante boas apenas como utilizador de outras pessoas que, sendo incautas, acreditam na boa-fé do utilizador, porque o utilizador tem também a característica de apenas de ser um sabujo que tenta dar ar de quem pensa pela própria cabeça, mas na realidade inveja qualidades alheias que tenta usurpar para agradar a um suposto alguém que, também ele, é um autêntico utilizador da pouca autoestima de quem lhe presta vassalagem.

E é assim, que estas pessoas sobem em hierarquias, não como sendo realmente bons no word ou no excel ou em qualquer outra função, mas a usar os outros a seu bel-prazer, sem qualquer pudor, que depois descartam como se fossem lixo.

Se o Sr. Asdrúbal conseguiu ou não a vaga de utilizar, deixo à consideração do leitor.

 

Gabriela Torres