Envolvidos na campanha autárquica estão centenas de cidadãos, nossos amigos e vizinhos, a quem devemos agradecer a disponibilidade de darem a cara por partidos e pelas suas freguesias. As listas estão entregues e as candidaturas lançadas.
Tudo indica que vamos ter uma campanha idêntica às do passado. Devemo-nos perguntar porque estamos a entrar em mais uma sessão de casos e casinhos, quezílias pessoais envolvidas num ambiente clássico de desconsideração pelos candidatos.
Um ambiente que dificultou a constituição das listas partidárias, com muita gente convidada a manifestar-se indisponível para a causa pública, dado o estatuto da discussão política no concelho. Muitas pessoas, com capacidade, saber e visão estratégica – útil para nós todos – não quiseram sujeitar-se a ter que ver a sua imagem (mal) tratada nas redes sociais – campo onde se desenvolvem as “informações” mais surpreendentes, e onde medra uma comunicação de caserna que não edifica nada nem ninguém (individualidades e freguesias).
Política de casos ou de causas?
À semelhança de outras campanhas, prolifera a estratégica da política de casos, em detrimento da de causas, embora no caso de Freamunde, a movimentação das associações culturais tenha intervindo atempadamente e apresentado a todos os partidos um manifesto onde reivindica para a cidade um Centro Cultural para dar corpo à produção cultural que aqui acontece.
Todos os partidos acolheram esta proposta e já deram sinais de que estão de acordo com ela. Uma vitória política, proposta pela sociedade civil, desenhada de modo a ser aceite por quem terá a função de governar o concelho.
No campo das promessas – que são muitas – os partidos vão alinhavando para as freguesias um conjunto de iniciativas como se estivessem numa feira, como se os clientes (eleitores) ali fossem saber “quem dá mais”. Além disso sublinham numa dicotomia histórica baseada na relação do “bem-e-do-mal” que marca a história de cada partido, sobretudo do PSD e do PS.
As causas em aberto
Nos últimos oito anos, o PS, que herdou um concelho desenvolvido e endividado (que se mantém e manterá), com a liderança de Humberto Brito colocou na agenda política duas causas que importa lembrar: um concelho urbano, com a consequente entrada na Área Metropolitana do Porto; e o lançamento da via férrea a atravessar o concelho com uma linha de Valongo a Felgueiras.
As consequências de um concelho urbano
Uma coisa é a constatação da crescente urbanização da nossa terra que por força da economia local transforma as nossas freguesias na melhoria das condições de habitabilidade. Para isto acontecer, nem precisamos da política, pois a “coisa” move-se, fruto do trabalho e do investimento de todos.
Outra coisa é o planeamento político de um “concelho-cidade” que, pensamos, povoará os sonhos do actual presidente do executivo, embora nunca tenhamos encontrado nos partidos políticos do concelho uma ideia sobre isso e muito menos uma proposta consistente.
Daí que a opção pela linha férrea tenha sido uma surpresa e motivo, até, para apreciações humorísticas de internautas habituados que estão a viver amarrados a uma imagem que lembra um “passado glorioso”.
Lembramos aos leitores o que se passou no Porto aquando da candidatura de Fernando Gomes, pelo PS, quando se previa uma vitória do PSD, depois da gestão de Fernando Cabral, futuro presidente de Valongo.
Nessa altura, Gomes surpreendeu o eleitorado prometendo a construção do Metro na cidade. Foi a galhofa total, e surgiram as teses da impossibilidade do metro sustentadas na existência de um subsolo granítico! Contudo Gomes venceu e iniciou os estudos contra uma resistência mediática que não gostou da alternância de poder na Invicta.
Numa estratégia de marketing, foi então colocado, frente ao edifício da câmara, um simulacro de Metro, produzido em cartão, ali exposto durante meses. Abundaram as anedotas sobre o metro. Mas Gomes, com o apoio político do presidente da República, Mário Soares, ultrapassou todas as barreiras – vivíamos tempos do Governo de Cavaco – e com apoios europeus construiu o metro que hoje conhecemos.
Fica a pergunta: consegue imaginar o que seria hoje a cidade do Porto sem o Metro?
As consequências do “concelho-cidade”
Esta opção é inevitável, pois a economia puxa por ela. Compete à política aceitar a boleia da economia e promover o desenvolvimento do território nesse sentido. Apenas fica para discutir a que velocidade de decisão esta transformação deve ser feita.
Contudo tem consequências imediatas nas duas cidades já existentes – Paços e Freamunde – dado que a noção “concelho-cidade” exige a criação de novas centralidades, não deixando “ninguém para trás”.
Como fazer isto? Aqui fica um desafio que gostávamos de ver aprofundado pelos partidos políticos durante a campanha. Se o fizerem, talvez diminua a conflitualidade do discurso dado que será necessário encontrar novas opções para a nossa terra, deixando de estarmos a falar sempre do mesmo.
Sendo provável que os partidos não peguem nestes assuntos, outras organizações cívicas da nossa terra terão de tomar a dianteira. Mas isso só depois do dia 26 de Setembro.