As tradições representam um passado que assumimos como pedagógico e agregador e ajudam-nos a perceber o impacto ou a repercussão no quotidiano, no hoje e no amanhã. Vivenciamo-las, às vezes, com emoção e energia com o gosto final de conhecer quem somos e donde vimos. Mas há tradições e tradições.
Há as que constituem a nossa herança cultural e há as que nos revelam parentescos e afinidades cujas ramificações vagueiam no obscuro mas na sentinela também. Muitas das nossas buscas espevitam o hipocampo e reforçam a nova mente às vezes tão deteriorada pelas pressas e os descuidos.
Temos perceção e até cognição de muitos casos passados e repetidos ene vezes. Mas… tudo cansa; tudo passa…
Passou Maio e houve por aí muitas gestas (maias) nas janelas das casas? Talvez não acreditemos nos “males de inveja” ou males do outro mundi mas o povo diz, “que os há, há”. Mas, essas coisas à parte, constatamos que as suas cores (brancas ou amarelas) inebriam os nossos olhos, dando-nos suavidade e paz de espírito.
Passaram as festas populares (S. João, Sto. António e S. Pedro) e já não se viram as filas dos vasos das pessoas a engalanar a Capela de Santo António que obrigava, pelo menos, ao arregalar dos olhos: este é de fulano, este é nosso… ou a buscar o que era de cada um com vergonha da possível chacota da vizinha que tinha acautelado os seus nas vésperas.
Eram práticas não estatuídas, mas preceituadas pela prática e pela tradição oral. Muitas outras se reduziram a pó e a nada e algumas delas não serão de lamentar porque buliam com a dignidade das pessoas, com as escolhas pessoais caçoando das velhas, das viúvas a casar, até de encontros proibidos (postos ao léu).
Há tradições de há bem pouco tempo como “comer o rojão na véspera da Feira dos Capões ou de Santa Luzia que se vão consolidando na comunidade. E a de fazer os tapetes para passarem as procissões religiosas. É nova mas faz congregar esforços e a boa vizinhança. Exige comunhão de ideias, partilha, às vezes uns berros…
Estes e outro novos hábitos que se vão tornando tradições são mais edificativos e não têm nada a ver com superstições ou misticismos.
As tradições têm o condão de nos aproximar, de nos irmanar. Respeitamo-las e observamo-las enquanto fator de congregação, paragens na vida para recrear, para distrair o espírito, cada vez mais compacto e empoeirado por acontecimentos e lembranças tristes.
Vamos cantando a “Gandarela” e “Oh Freamunde, oh festas Sebastianas”, aprofundando tradições e laços afetivos. Para não vivermos enfadados.
Rosalina Oliveira